O estudo foi feito com crianças que, apesar de ainda não serem alfabetizadas, eram capazes de identificar letras. Elas só não sabiam como juntá-las na formação de palavras. Os participantes foram divididos em dois grupos: um foi treinado para copiar letras à mão e o outro, com a ajuda de computadores. O cérebro delas foi analisado com ressonância magnética antes e depois da atividade. O resultado? O órgão responde de maneira diferente em cada um dos casos.
No primeiro grupo, das crianças que copiaram as letras à mão, a atividade cerebral era mais parecida com a de um adulto que sabe ler e escrever. No segundo, não. "Os dados do exame sugerem que escrever prepara um sistema que facilita a leitura quando as crianças começam a passar por esse processo", disse Karin James.
Em uma enquete realizada 72% dos pais disseram que os filhos usam tanto o computador como o lápis e o papel para escrever. Em 23% dos casos, eles optam apenas pela escrita à mão e 5% das crianças escrevem somente em plataformas digitais.
O papel e o teclado
Na alfabetização, as crianças começam pela letra bastão (de forma) e, mais tarde, passam para a cursiva. "A letra cursiva exige movimentos mais precisos e elaborados. Então, é mais uma forma de estímulo", diz Quézia. Para ela, ainda que as crianças tenham cada vez mais intimidade com a digitação -- e do fato de a comunicação ser possível também por esse meio --, a escrita precisa fazer parte, sim, para que elas entendam o que está por trás daquele processo. "Apesar de saberem operar uma calculadora, que oferece os resultados prontos, é preciso aprender a fazer as operações matemáticas para ter a noção quantitativa", compara.
O estudo não avaliou se houve diferença no aprendizado das crianças que escreviam à mão ou usavam o computador, mas alguns especialistas sugerem que o uso de teclados e telas touch pode desenvolver outras habilidades ou até as mesmas, mas de uma forma diferente. “O fato de as crianças digitarem mais pode permitir que se adaptem melhor ao mundo digital ou apontar para uma evolução diferente, nem melhor, nem pior”, diz Silmar Gannam, psicanalista e pediatra, membro da equipe do Grupo de Apoio a Escolarização Trapézio, de São Paulo.
Então, afinal, o que é melhor: Proibir o acesso aos eletrônicos? Abandonar o ensino da escrita? A resposta é: nem um, nem outro. "Abolir a escrita é prematuro, é um prejuízo. Você deixa de oferecer algo que é positivo para o desenvolvimento. Optar apenas pelo eletrônico fecha um caminho e limita as possibilidades, da mesma forma que impedi-la de ter contato com a tecnologia", diz Elenice Lobo, diretora pedagógica do Colégio Santo Américo (SP). Por isso, equilíbrio é tudo. “É preciso valorizar o melhor da tecnologia e o melhor da escrita à mão para que a criança receba diferentes tipos de estímulo e, assim, desenvolva todo o seu potencial", reforça.
0 comentários: